A origem do nome

Eu e você, sem perceber
Fomos ficando iguais,
Longe,
Distantes demais.

Distantes demais - Lenine/Dudu Falcão

Fazia uma tarde aprazível, por certo. O sol brilhava tênue por entre as nuvens e era possível ouvir o cântico suave dos sabiás, pardais e sibites acompanhados pelo imperioso mar que lançava sua musicalidade de longe, de logo após a curva feita pelo rio por entre as dunas. O vento soprava manso, movimentando seus dourados cachos assanhados e seu vestido estampado enquanto se recostava na pilastra defronte à água. Estava sozinha. Distante de tudo, distante de si mesma.

Enquanto admirava a paisagem da outra margem, pode ver que era a mesma que costumava observar quando criança. Não conseguia detectar nenhuma mudança no cenário. Os coqueiros, a vegetação mais baixa e, até, as dunas, que costumam se mover, aparentavam estar da mesma maneira desde a sua ultima lembrança. Mas os olhos que a contemplava não eram mais os mesmos, não viam a mesma cor.

Quando menina se imaginava correndo entre os coqueiros, escorregando nas dunas enquanto seus pais a chamava apressados para servirem o piquenique que já estava posto sob a sombra de uma barraca improvisada e sobre a típica toalha quadriculada de piqueniques dos seus sonhos, é claro. Mas agora ela não conseguia visualizar tal cena, não conseguia ver com os olhos límpidos de uma infante. Ela crescera e, apesar da beleza, ela via apenas desolação, um panorama sem vida. Neste tempo ela  ainda não sabia que era vista deste mesmo modo por quem a conhecia. Bonita, solitária e, na maior parte do tempo, distante, como a outra margem.

Ela passara de verde para amarela. Amadurecera, e a sabedoria comum das crianças com olhar esperançoso a abandonara. Mas lá no fundo, num lugar que ela escondia de todos, até de si mesma, ainda havia a menina. Ela não passava de uma meninarréa, pois foi assim que amá-lo a fez. Meninavéia. Menina velha. Mas, ainda assim, menina.

Um comentário:

Charles Bravowood disse...

Um dos mais belos textos que li nos últimos dias, o amor nos transforma em tantas coisas, e por último solitários amados que perderam o sorriso.

Charlie B.