Filarmônica
Primeiro a empolgação. Segundo o suor nas mãos. Em seguida a inquietação. E, por último, o êxtase e as lágrimas.
Era tudo novo e eu tinha certeza que seria uma experiência divina.
Mas eu não imaginava que eu iria amá-la daquele jeito, foi como uma estrela nascendo dentro de mim.
Ao primeiro toque, um arrepio, uma lágrima.
A música...
Ela foi crescendo, aumentando, a cada nova fase um instrumento acrescentado, uma pitada a mais do tempero de Deus.
Os sopros!
Encantamento.
Tentei frear as lágrimas que insistiam em cair e, quando eu já estava conseguindo, eis que a noite me reservava uma última surpresa: O GUARANI.
Eu chovi como um toró e uma neblina, era a música quem me conduzia, e ela era tempestade e calmaria.
Foi então que senti que a estrela que em mim nascia era Deus que me sorria.
Do que não ficava para sempre
Era uma vez, mas eu me lembro como se fosse agora, eu queria ser trapezista. Minha paixão era o trapézio, me atirar lá do alto na certeza de que alguém segurava minhas mãos, não me deixando cair. Era lindo mas eu morria de medo. Tinha medo de tudo quase, cinema, parque de diversão, de circo, ciganos, aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava para sempre.
Era outra vez, outro circo, ciganos e patinadores. O circo chegou a cidade era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas, eles se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo, e eu entrei no meio deles e falei que eu queria ser trapezista. Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, mas era uma moça... forte, era uma moçona mesmo. Ela me olhou, riu um pouco, disse que era muito difícil, mas que nada era impossível.
Depois veio o palhaço Poli, veio o Topz, veio o Diverlangue que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público. De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando. A lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto. Quando eu cansei de ficar olhando para o alto e fui olhar para as pessoas, só aí eu vi que eu estava sozinha.
Texto de Antônio Bivar
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Desculpa deslavada para falta de inspiração
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Sabes daquelas velinhas de aniversário que a gente sopra ela apaga e quando menos esperamos ela acende outra vez?
Pois é.
Velinha chatinha e implicante esta última que soprei.
Pois é.
Velinha chatinha e implicante esta última que soprei.
Ao lado
Sempre ias à frente e me é difícil te expressar em palavras, já que agora segues teu caminho ao meu lado, sem guiar-me.
Para ver-te não careço mais de levantar o olhar, basta-me virar o rosto para te avistar. Estás aqui como um velho amigo, aquela parte querida que terminastes por ser.
Acostumei-me com tua presença, que um dia me foi farol e hoje me é discreta, eternizada companheira de viagem nesta estrada da vida que é exatamente incerta.
Consulto-te, por vezes, para que as raras palavras que, ainda, escorrem por meus dedos sejam mel e possam adoçar o breve momento de quem se dedicou a lê-las.
Então, segura a minha mão e sigamos juntos lado a lado!
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Desculpa deslavada para falta de inspiração
Ovo de chocolate...
É, gente, é Páscoa! Uma das mais belas datas do ano. É nela que relembramos que sempre temos a chance de recomeçar, de renascer em Cristo. Feliz Páscoa, meninada!
Talvez a gente se encontre, talvez a gente encontre explicação
Ora, ora... E ontem eu te vi, justamente quando eu não te procurava. Parecias-me outro, mais leve, menos austero e de cabelos compridos. Receio até ter visto uma feição de sonhador, algo que me ocultastes em tempos idos. É... Eras outro, mas eu também não sou mais a mesma.
Talvez os meus olhos passaram a enxergar o que era dissimulado pelo doce amargo da paixão.
Talvez, agora, possas me ver sem máscaras e sem ilusões.
Talvez, talvez...
Talvez, talvez...
Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
Mário Quintana
Calcanhar de Aquiles
- E aí? Conseguiu?
- Há tempos deixei de dar respostas objetivas que logo me contradizem. Especular é mais fácil. Suponho eu que no momento está sarado.
- Como pode alguém conhecer-se tão pouco, meu Deus? Faça-me o favor de explicar o porquê de ”no momento”.
- Se eu me conhecesse não estaria agora tendo tal conversa contigo. E o resto é tudo muito simples, é que sara e sangra, sara e sangra. Agora, como eu disse, não está sangrando.
- Não seja tão rude, menina. Mas entendo o que te passa. É sempre assim, sempre no mesmo lugar?
- E poderia ser em outro? Este é o meu Calcanhar de Aquiles, mas ao invés de se localizar nos membros, está no tronco. Bem lá, no coração.
- E como você consegue viver assim, sarando e sangrando?
- Fazendo uso do meu otimismo desregrado que tu odeias, eu te digo que seria bem pior se nunca tivesse chegado a sarar alguma vez. Eu já estaria sem sangue em virtude do tempo que se passou desde que fui atingida. Consola-me a esperança de que não volte a sangrar.
- Cansei de tentar te entender.
- É... Eu também.
[risos]
- Há tempos deixei de dar respostas objetivas que logo me contradizem. Especular é mais fácil. Suponho eu que no momento está sarado.
- Como pode alguém conhecer-se tão pouco, meu Deus? Faça-me o favor de explicar o porquê de ”no momento”.
- Se eu me conhecesse não estaria agora tendo tal conversa contigo. E o resto é tudo muito simples, é que sara e sangra, sara e sangra. Agora, como eu disse, não está sangrando.
- Não seja tão rude, menina. Mas entendo o que te passa. É sempre assim, sempre no mesmo lugar?
- E poderia ser em outro? Este é o meu Calcanhar de Aquiles, mas ao invés de se localizar nos membros, está no tronco. Bem lá, no coração.
- E como você consegue viver assim, sarando e sangrando?
- Fazendo uso do meu otimismo desregrado que tu odeias, eu te digo que seria bem pior se nunca tivesse chegado a sarar alguma vez. Eu já estaria sem sangue em virtude do tempo que se passou desde que fui atingida. Consola-me a esperança de que não volte a sangrar.
- Cansei de tentar te entender.
- É... Eu também.
[risos]
Você é o que resiste
Ao desespero e à solidão
Nada existe
E o mundo é triste
Sem você
Sem você – Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes
Ao desespero e à solidão
Nada existe
E o mundo é triste
Sem você
Sem você – Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes
A origem do nome
Eu e você, sem perceber
Fomos ficando iguais,
Longe,
Distantes demais.
Distantes demais - Lenine/Dudu Falcão
Fomos ficando iguais,
Longe,
Distantes demais.
Distantes demais - Lenine/Dudu Falcão
Fazia uma tarde aprazível, por certo. O sol brilhava tênue por entre as nuvens e era possível ouvir o cântico suave dos sabiás, pardais e sibites acompanhados pelo imperioso mar que lançava sua musicalidade de longe, de logo após a curva feita pelo rio por entre as dunas. O vento soprava manso, movimentando seus dourados cachos assanhados e seu vestido estampado enquanto se recostava na pilastra defronte à água. Estava sozinha. Distante de tudo, distante de si mesma.
Enquanto admirava a paisagem da outra margem, pode ver que era a mesma que costumava observar quando criança. Não conseguia detectar nenhuma mudança no cenário. Os coqueiros, a vegetação mais baixa e, até, as dunas, que costumam se mover, aparentavam estar da mesma maneira desde a sua ultima lembrança. Mas os olhos que a contemplava não eram mais os mesmos, não viam a mesma cor.
Quando menina se imaginava correndo entre os coqueiros, escorregando nas dunas enquanto seus pais a chamava apressados para servirem o piquenique que já estava posto sob a sombra de uma barraca improvisada e sobre a típica toalha quadriculada de piqueniques dos seus sonhos, é claro. Mas agora ela não conseguia visualizar tal cena, não conseguia ver com os olhos límpidos de uma infante. Ela crescera e, apesar da beleza, ela via apenas desolação, um panorama sem vida. Neste tempo ela ainda não sabia que era vista deste mesmo modo por quem a conhecia. Bonita, solitária e, na maior parte do tempo, distante, como a outra margem.
Ela passara de verde para amarela. Amadurecera, e a sabedoria comum das crianças com olhar esperançoso a abandonara. Mas lá no fundo, num lugar que ela escondia de todos, até de si mesma, ainda havia a menina. Ela não passava de uma meninarréa, pois foi assim que amá-lo a fez. Meninavéia. Menina velha. Mas, ainda assim, menina.
Enquanto admirava a paisagem da outra margem, pode ver que era a mesma que costumava observar quando criança. Não conseguia detectar nenhuma mudança no cenário. Os coqueiros, a vegetação mais baixa e, até, as dunas, que costumam se mover, aparentavam estar da mesma maneira desde a sua ultima lembrança. Mas os olhos que a contemplava não eram mais os mesmos, não viam a mesma cor.
Quando menina se imaginava correndo entre os coqueiros, escorregando nas dunas enquanto seus pais a chamava apressados para servirem o piquenique que já estava posto sob a sombra de uma barraca improvisada e sobre a típica toalha quadriculada de piqueniques dos seus sonhos, é claro. Mas agora ela não conseguia visualizar tal cena, não conseguia ver com os olhos límpidos de uma infante. Ela crescera e, apesar da beleza, ela via apenas desolação, um panorama sem vida. Neste tempo ela ainda não sabia que era vista deste mesmo modo por quem a conhecia. Bonita, solitária e, na maior parte do tempo, distante, como a outra margem.
Ela passara de verde para amarela. Amadurecera, e a sabedoria comum das crianças com olhar esperançoso a abandonara. Mas lá no fundo, num lugar que ela escondia de todos, até de si mesma, ainda havia a menina. Ela não passava de uma meninarréa, pois foi assim que amá-lo a fez. Meninavéia. Menina velha. Mas, ainda assim, menina.
Vermelho-sangue
“Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu”
Eu te amo - Chico Buarque/Tom Jobim
Já tinha desistido e se dado por vencida, conformando-se com a sua derrota. Não queria mais lutar, pois todas as vezes ela saíra derrotada, ferida e fraca. E resolveu, assim, guardar entre os seus tesouros o que fingira ser indiferente por algum tempo, o coração de pano que ganhou dele.
E, tendo-o em suas mãos, pôde lembrar-se, com riqueza de detalhes, do dia em que o recebera. Era noite, enquanto os dois esperavam sentados para assistir a uma peça em frente ao teatro, chegou um simpático palhaço. Entregando a ele um coração, disse-o que se o apertasse ele cantaria. Ele pressionou o coração em suas mãos e o palhaço começou a cantar umas dessas músicas sertanejas que esbanjam declarações de amor. Isso arrancou sorrisos de ambos, pois não era bem o estilo de música que eles curtiam. Enquanto o palhaço cantava, ele gritava “Diga a ela que você a ama! Vamos, diga”. E ele, muito desconcertado, dizia para o palhaço, não para ela, “eu a amo, ela sabe, ela sabe”. Por final, o palhaço o perguntou se ele não iria dar o coração a ela. Ele, muito envergonhado, ficou calado por instantes. Ela, percebendo o embaraço dele, deu uma pancadinha em seu ombro e, sorrindo, o perguntou: “Você não vai me dar o coração?”. Ele a fitou, sorriu também e o entregou a ela. Haviam entrado em um entendimento. Ele o dera sem qualquer expectativa e ela o recebera da mesma forma. Tanto, que no dia seguinte, resolveu chamar o coração de Meu, pois, acreditava ela, se tratar do seu próprio coração, aquele que ela havia dado a ele o qual estava devolvendo. Por esta época ela travava mais uma luta contra a sua paixão, já se declarando, erradamente, vitoriosa, e, com o fato, acreditava sim, que estava com o seu coração de volta, pronta para amar a outra pessoa.
Sorriu. Passados alguns meses, agora podia ver como sempre fora ingênua. O coração que recebera naquele dia era branco, todo branco, o que dera a ele era vermelho-sangue, estava preenchido de amor e paixão. Aquele coração que possuía era o dele e o dela nunca o deixara. Com saudade dele e de si mesma pensou:
- O teu é branco, menino, misturas todas as cores. No teu branco não me acho.
Um não, vários
Estavam lá em mais um diálogo arraigado de medo, euforia e amor. Eram os de sempre, os para sempre. Ele a amava mais que tudo e preocupava-se com suas decisões movidas pela paixão e em sua maioria precipitadas. Ela, por sua vez, o respeitava por isso sendo seguidora de seus conselhos e procurava, consequentemente, não decepcioná-lo. Mas desta vez era diferente, eles não estavam encontrando a harmonia que buscavam para poderem terminar com a discussão que já se arrastava por dias. Nenhum estava disposto a ceder.
- Entendo tudo, meu bem. Eu sei que estou em um caminho muito difícil, aonde as pedras não vão me faltar. Mas já passou por tua cabeça que EU QUERO fazer isto?
- Querida, abandonar um curso às vias de terminá-lo eu compreendo. Conseguiste me convencer com o teu discurso deslumbrado, doce e ingênuo. É isso mesmo, ingênuo. Não adianta lançar-me este olhar. És ingênua e a tua ingenuidade não te permite ver que és. Mas, menina, olhe ao teu redor. Veja! Não tem como fazeres o que pretendes. O teu espírito é delicado, não está pronto para as grosserias a que serás submetida cedo ou tarde. Podes padecer nesta luta sem nunca poder se declarar vencedora, meu amor. Não quero que sofras!
- Oras! Continuamente me vens com esta tua conversa. Eu já disse que não vais dissuadir-me desta vez. Eu vou com ou sem o teu apoio. Mas vai ser muito difícil não poder te ter ao meu lado. Por favor, eu te suplico. Pare com isso! Eu sei que eu estou apta.
- Pare chorar, querida. Estás vendo? Eu te conheço bem. O teu coração é grande por demais e por isso sofres demasiadamente. O peso vai além do que podes suportar.
- Acredite, eu preciso passar por isto. A pessoa que está a receber auxílio é esta acabrunhada em teus braços, não qualquer outra. Por favor! Preciso que me apóies.
- Tu não podes mudar o mundo, menina!
- Eu posso, sim. Veja.
- Mas do que isto se trata?
- É um desenho. Uma das crianças fez para mim. Podes compreender a magnitude de tudo o que se passa comigo? A assistente social me chamou hoje para mostrar-me os desenhos anteriores da mesma autora do desenho lindo e colorido que seguras nas mãos. E sabes como eram? Pois te digo. Eram todos com tinta preta.
- E o que isso tem a ver?
- Foi depois que comecei a freqüentar o abrigo e dar mais carinho e atenção para a pobre infante abandonada nesta terra de gigantes que ela passou a perceber as cores que existem no mundo.
- É uma história linda, meu amor. Mas é apenas uma criança em meio a tantas outras.
- É, é verdade. Eu não posso mudar o mundo. Eu posso mudar vários mundos. Consegui mudar o desta criança e vou mudar o de muitas outras.
Ele calou-se. As palavras o faltavam, seus argumentos estavam esgotados. Comovido com tanto ardor a beijou na testa e segurou a sua mão. Eles estavam juntos outra vez. Ele sabia que ela seria capaz, pois ela mudou o seu mundo quando resolveu ser parte dele.
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